sábado, 8 de abril de 2017

A reta final da reforma da Previdência

Debate nos estúdios da ISTOÉ DINHEIRO detalha as mudanças no sistema de aposentadorias em meio às negociações finais no Congresso Nacional. Para diminuir resistências entre os parlamentares, governo aceita algumas mudanças que afrouxam o texto inicial em temas como a fórmula de transição, os benefícios rurais e nas regras de professores e policiais

A reta final da reforma da Previdência
1- Marcos Lisboa (presidente do Insper); 2- Darcy Francisco (economista e especialista em finanças públicas); 3 - Luís Artur Nogueira (editor de economia da IstoÉ Dinheiro); 4 - Marcelo Caetano (secretário da Previdência do Ministério da Fazenda); 5 - Mansueto Almeida (secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda); 6- Gabriel Baldocchi (editor-assistente de Economia IstoÉ Dinheiro)
 Ministério da 
Fazenda, Marcelo Caetano, na sede da Editora Três, em São Paulo, 
o presidente do Insper, Marcos Lisboa, lembrou de quando tinha sido 
secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, no início
 dos anos 2000. Naquele tempo, Lisboa recebera a indicação do jovem 
Caetano como o técnico mais qualificado para sugerir mudanças no
 sistema
 de aposentadorias. Quase 15 anos depois, a reforma da Previdência, que, 
nesta versão, tem Caetano como principal autor, caminha para sair do papel 
e obriga o especialista a dedicar tempo para mostrar que apenas argumentos
 técnicos não bastam para garantir a revisão. “Tem um processo de 
negociação no Congresso”, afirmou Caetano em debate realizado pela revista
 ISTOÉ DINHEIRO. O evento, que contou ainda com as participações do 
secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, 
Mansueto Almeida, e do especialista em finanças públicas, Darcy Francisco, 
além de Lisboa, foi transmitido ao vivo pela página da revista no Facebook e 
pela TV NBR.
A busca de apoio no Legislativo está por trás da decisão do governo de 
admitir mudanças propostas por parlamentares, que podem afrouxar o texto
 original da reforma. Os principais pontos que devem ser modificados são os
 benefícios para população de baixa renda (BPC), a fórmula de transição do 
regime atual, o acúmulo de benefícios, as regras para a população rural e as 
aposentadorias de professores e policiais civis. Enviado no final de 2016, 
o projeto incluía esses três últimos grupos na regra geral da idade mínima, 
de 65 anos. Atualmente, eles podem se aposentar com cinco anos a menos. 
No caso do BPC, a reforma elevava para 70 anos o benefício. 
Além disso, criava um sistema de contribuição individual para os produtores
 rurais, que hoje conseguem ter acesso à aposentadoria pela comprovação 
de atividade agrícola, sem necessariamente contribuir.
Não está claro ainda como ficarão as novas regras (leia quadro na pág. 24). 
A definição deve sair daqui a duas semanas, após intensas rodadas de 
negociações que resultarão no relatório final. “As mudanças propostas pelo
 relator mantém a integralidade da reforma”, afirmou à ISTOÉ DINHEIRO o
 ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (leia entrevista ao lado). 
A reforma busca conter a disparada dos gastos previdenciários. 
A conta vem crescendo ininterruptamente e chegou a R$ 151 bilhões no ano 
passado apenas no INSS, que compreende trabalhadores do setor privado 
urbano e rural. A conta não inclui, portanto, o déficit dos servidores públicos, 
de R$ 155,7 bilhões, entre Estados, municípios e União. Combinados, 
os gastos hoje chegam a 13% do PIB, nível mais elevado do que o Japão, 
segundo o secretário Mansueto Almeida. “Se não fizermos a reforma, 
até 2060 o Brasil gastará mais do que 20% do PIB”, afirmou Almeida,
 durante o debate da ISTOÉ DINHEIRO. “Nenhum país do mundo gasta 20%
 do PIB com Previdência.”

Em parte, a pressão dos gastos é explicada pelo envelhecimento da população. 
O Brasil terá, em 20 anos, uma evolução demográfica que levou 50 anos para 
acontecer na Europa.
 A participação dos idosos deve saltar de 10% da população para 33,7% do
 total em 2060. Mas o sistema carrega distorções que acentuam o problema. 
A aposentadoria por tempo de contribuição, que ainda permite aos brasileiros
 usufruir dos benefícios, com 55 anos, na média, é praticamente uma exceção
 nas comparações internacionais. Além disso, em setores do serviço público,
 ainda é possível se aposentar com o mesmo salário da ativa, enquanto 
contribuintes da iniciativa privada es
tão sujeitos ao teto do INSS, de R$ 5.531,31. “Estamos atrasados.
 O mundo já fez reformas nos anos 1980, 1990”, afirmou Lisboa, do Insper. 
“Fomos irresponsáveis. Fingimos que o problema não existia.”
O pano de fundo da proposta desenhada por Caetano era igualar todos os 
brasileiros e acabar com privilégios específicos. “Encaro como uma reforma 
de Estado, não uma reforma de governo”, afirmou o secretário. O governo,
 no entanto, acabou cedendo em pontos centrais. Sob a justificativa de que 
são categorias diferentes, o Executivo deixou os militares de fora do texto
 original e promete enviar mudanças específicas mais adiante.
 Para os especialistas, não haveria razão para esperar. “É exatamente nos
 militares que existe a maior relação entre inativos e ativos”, afirmou 
Francisco, no debate. Diante das pressões, o governo abriu a possibilidade 
de que Estados façam ajustes próprios nas previdências em até seis meses.
 Se não o fizerem, terão de seguir as regras gerais.
“As mudanças propostas mantêm os pontos fundamentais da reforma”
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, falou à DINHEIRO na tarde 
de quinta-feira 6:
Uma sondagem feita pelo jornal O Estado de S. Paulo indicou 
resistência à reforma no Congresso e votos insuficientes para a aprovação.
 Qual é a estratégia para reverter esse quadro?
Essa pesquisa reflete o estágio atual da discussão. No momento em que os 
parlamentares vão entrando em contato com os dados, eles começam a se
 convencer, a se conscientizar da necessidade da reforma. A mudança será 
gradual. É um processo em andamento, não só um diálogo direto com os 
parlamentares, mas também um esclarecimento para a sociedade. 
Não há proposta de reforma da Previdência que tenha sido aprovada no 
mundo que já tenha começado com apoio. É um processo normal.
O relator indicou mudanças em cinco temas. O que deve ser mantido 
para que a reforma não desfigure como um todo?
As mudanças propostas pelo relator mantêm a integralidade, os pontos 
fundamentais da reforma. Alguma mudança na questão dos benefícios para 
deficientes, a questão dos professores e de policiais, ou a questão de mudar 
algo no rural, tudo isso tem um impacto menor.
Isso significa que os professores e os policiais terão uma regra própria?
Isso, exato. Como hoje já se propõe aos militares.
Com idades diferentes também, como é hoje?
Isso não está definido.
As alterações diminuem a resistência no Congresso Nacional?
Acredito que sim. Às vezes, os problemas são esses pontos abordados,
 o trabalhador rural, que ganhou pouco e não pode ficar igual ao urbano,
 policiais, professores… Estive na Câmara, falei na Comissão da Presidência, 
com a bancada da oposição toda presente. Antes disso, tinha falado com os 
principais partidos da base aliada. O que senti é que os pontos de maior 
preocupação foram esses que foram alterados.
Qual é o prazo que o governo trabalha para aprovação do texto final?
Estamos fazendo um projeto para décadas. Então, se for aprovado em junho, 
que é a expectativa, ou se for aprovado pelo Senado em agosto, porque julho é férias,
 do meu ponto de vista não altera substancialmente. Não são um ou dois meses que
 vão fazer uma grande diferença num projeto tão importante, tão profundo e que, 
na realidade, tem resultado no longo prazo.
Se os argumentos técnicos convencem economistas e o mercado, 
são mais difíceis de serem aceitos pela população em geral. As dúvidas enviadas
 por internautas durante o debate da ISTOÉ DINHEIRO incluíam desde 
questionamentos sobre as exceções às regras até as razões que justificam 
mudanças em benefícios como os rurais, por exemplo. Essa percepção, 
somada à pressão de grupos de interesse, como os servidores, 
vem gerando uma forte resistência no Congresso. Uma sondagem divulgada pelo
 jornal O Estado de S.Paulo na quarta-feira 5 mostrou que o governo não teria 
votos suficientes para passar a reforma caso o texto fosse a plenário naquele dia.
 Antes de ir ao Senado, o projeto precisa ser aprovado por 308 deputados federais, 
em dois turnos. O placar da sondagem indicava 251 favoráveis. “O governo chegou 
com um texto que considerava ideal, mas a reforma que passará é a possível no 
momento”, afirma Efraim Filho (PB), líder do DEM na Câmara. Meirelles minimiza e
 diz que a resistência é natural no início, mas que deve perder força. “Não há reforma 
da Previdência que tenha começado com apoio.” Na reta final das negociações, 
milhares de internautas puderam esclarecer, num debate franco, suas dúvidas e 
formar suas opiniões.

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