quinta-feira, 23 de março de 2017

Após recuo, 86% dos servidores ficam de fora da reforma da Previdência

A decisão do presidente Michel Temer de retirar os servidores estaduais e municipais da reforma da Previdência, anunciada na terça-feira, 21, acabou deixando 86% do funcionalismo público em atividade no País fora do alcance da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que altera as regras de aposentadorias e pensões em tramitação no Congresso Nacional.
Do total de 6,214 milhões de servidores públicos 
(federais, estaduais e municipais), 5,362 milhões 
não farão parte da reforma
 depois que o presidente cedeu às pressão dos 
grupos organizados 

e anunciou anteontem o recuo na proposta. 
O cálculo foi feito pelo consultor 
legislativo do Senado e especialista em Previdência 
Pedro Fernando Nery.
A decisão abre um precedente para que outras categorias 
escapem também
 do alcance da reforma. A equipe econômica passou o dia 
tentando 
minimizar o impacto da mudança para conter uma piora da 
confiança no 
ajuste fiscal pelos analistas do mercado, mas, no Congresso,
 a retirada 
de outras categorias do funcionalismo público federal já é 
dada como certa,
 segundo apurou a reportagem.
Os policiais federais fazem forte pressão e as chances de
 conseguirem ficar
 de fora da reforma com apoio dos parlamentares aumentou
 com a 
concessão
 feita pelo Planalto. Juízes e procuradores federais vão brigar 
para 
ficarem 
de
 fora e há emendas já apresentadas para isso. E os Estados, 
que enfrentam 
problemas graves nas suas contas em razão do aumento 
crescente do déficit 
da Previdência dos servidores, reclamaram da decisão.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta 
quarta-feira, 22, 
que havia um risco grande de judicialização da proposta. 
“Não é apenas uma questão de conveniência política ou 
viabilidade para os
 governadores, é de autonomia federativa”, afirmou. 
Segundo o ministro, 
as regras para a Previdência dos servidores estaduais
 serão tomadas por
 Estado.
“O governo tomou a decisão de focar o seu trabalho 
no que é responsabilidade
 direta da União, que é o Orçamento federal”, completou. 
Para os servidores da União, não haverá exceção. 
Um fonte da equipe econômica disse que o governo 
“não considera 

a hipótese de retirar nenhuma categoria federal da proposta”.
Troca
Os dados apresentados pelo consultor do Senado levaram
 em consideração 
os militares das Forças Armadas, que também, 
com muita pressão, 
conseguiram escapar da reforma antes mesmo de a
 proposta ser enviada ao
 Congresso no final do ano passado. 
Apenas 852,85 mil servidores civis da 
União (14% do total do funcionalismo público brasileiro) 
serão afetados pela PEC.
Para o consultor do Senado, o governo está “trocando 
uma reforma por 
várias reformas”. Segundo ele, o lobby para a mudança 
partiu sobretudo 
dos juízes, promotores e professores. 
Pelos dados do consultor, dos 5.593 
entes federativos (Estados e municípios) do Brasil, 
60% (3.382) têm regime 
próprio de previdência social.
Na avaliação de Nery, não se sabe ainda como
 o mercado financeiro vai 
quantificar o impacto da mudança, já que aumentam
 as chances de o 
governo federal ter de socorrer os Estados no futuro.
“A gente sabe que no Brasil a União é sempre muito
 chamada a socorrer os 
Estados. Não se sabe como o mercado vai ‘precificar’
 esse passivo 
contingente, que é a possibilidade de no futuro o 
endividamento aumentar 
porque ela vai ter que socorrer eventualmente 
Estados que não conseguirem
 pactuar novas regras com as suas assembleias”, avaliou.

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